terça-feira, 16 de março de 2010

Em fuga

- Saltei aquela parte dos beijos e das juras de amor eterno; tu também, na tua fleuma quase britânica confessavas-me, tartamudeando, que o amor era uma ficção, uma ausência de real, que estávamos juntos por... porque...

- Porque nos dá jeito, Isabel; depois ria-me, ríamo-nos do nosso cinismo, de um certo charme profilático, distintos... mas o teu olhar não sabia mentir e, por vezes, ocorria-me ser como que, atravessado por ele, como numa explosão de despeito e desvelo. Era sincero, Isabel, eras honesta, apesar da ficção, do look snob, da reprodução ad eternum de um estilo.

Mas o teu amor por mim acontecia, agora sei-o bem!

Depois mudaste, Isabel. Quando aquele beijo sem promessa se esvaiu, olhaste-me como igual, émulo sombrio da tua alma; aquele ser imperfeito que c(que)rias poder amar, já lá não estava... foi naquele lapso de tempo que tudo mudou, agora sei-o bem...!

Sei que não continuaríamos os mesmos... sei-te agora com homem, casa e filhos; será que ainda queres saber de mim...? Encontrar-me-ás junto à árvore que não plantei, com o livro que não escrevi. Quem sabe aí tudo desapareça... eu e tu, num qualquer fim de tarde sem sentido.

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