domingo, 28 de março de 2010

Delírios... ou não

Sob o pano de loiça um líquido amarelo-esverdeado escorre para o interior da pia. Petrifico, recuo um, dois, três pés. A espaços o líquido corporiza e transmuda-se num possível boneco, dir-se-ia de plástico. Uma monstruosidade cénica toma posse da cozinha.

A pia, num mosaico de cores, remete-se ao papel de palco; o dito boneco ganha forma (é informe e não é nenhum boneco, mas não faz mal).

Tropeço num banco e por pouco não me estampo, costas no chão. Reequilibro-me. O boneco assume uma dimensão quase humana; um pequeno anão desproporcionado.

Tacteio, tremelicoso, o telemóvel que jaz sobre o mesão não despegando, contudo, o olhar daquele espectáculo. Fecho as pálpebras, esfrego os olhos, gorjeio, disco teclas ao acaso no telemóvel.

Um improvável membro assemelhado a um braço apossa-se do meu telemóvel, absorvendo-o no conteúdo de uma qualquer substância; o verde e o amarelo fundem-se numa côr síntese devindo um cinza putrefacto.

Caio por fim ao chão, bato com a cabeça, perco a consciência; uma sonoridade indistinta confisca-me ao breu das entranhas. Sinto-me desfalecer...

A minha boca está húmida, um ou dois dentes latejam. Retinam campaínhas num recanto obscuro do meu cérebro, estendo e encolho as falanges dos pés quando uns fantásticos olhos verdes auspiciam o meu despertar. Uns fantásticos olhos verdes combinando com um top amarelo muito curto que produz em mim uma reputada reacção química.

- Verde e amarelo; penso eu.

Olho a pia e o pano amarelo. O sonasol maçã entornado arremete-se-lhe em seu caminho por sob o pano encavalitado.

Sorrio, beijo-a, arrasto-a p'ró quarto; um fragor de gritinhos entontece-me e excita-me.

Lá dentro, um bicho inarticulado sitia-me os lençóis; ela sucumbe, eu...

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